quarta-feira, 9 de maio de 2012

Campeonato do Nordeste e o fim dos Estaduais


Por Ulisses Braga Neto*
O Campeonato do Nordeste está de volta em 2013, com a participação das 16 melhores equipes da região. Segundo se comenta, o Campeão terá vaga assegurada na Copa Sul-Americana.

A CBF divulgou há cerca de um mês um documento em que reserva 12 datas para a sua disputa, no início do ano. Atualmente, são reservadas 23 datas para as competições "locais". Sendo assim, um clube que participar do Nordestão só terá disponíveis 11 datas para o estadual. A proposta da CBF, segundo o referido documento, é que a "primeira fase" dos estaduais seja disputada sem os clubes que participam do Nordestão. Com o término deste, haverá a "segunda fase" do estadual, com os cinco melhores da primeira fase, mais os três que disputaram o torneio regional.

Não creio que todos estejam a par desses acontecimentos. Essas são modificações profundas, que convidam à reflexão. Em meados dos anos 80, o Campeonato Pernambucano era, sem dúvida, o torneio mais importante do ano. Era disputado no segundo semestre, em três turnos de duas fases cada. Perdurava por longos seis meses. Ao final dos anos 80, com a emergência da TV como organizadora e patrocinadora do futebol nacional, o estadual começou o seu longo declínio. Passou de três para dois turnos e teve sua duração diminuída. Mas ainda tinha duas fases por turno. Depois, passou para dois turnos, mas com fase única em cada turno. Há dois anos, passou a ser disputado em turno único. E a partir de 2013, quem sabe, será disputado em meio turno!

Esses fatos apontam para uma realidade inexorável: a extinção dos estaduais, da forma como os conhecemos hoje.

Os estaduais têm um valor histórico inegável. Foi a partir deles que se construiu o futebol brasileiro. Estão registrados na memória emocional de todo torcedor. Mas é preciso reconhecer a marcha do tempo. Os estaduais perderam o sentido, econômica e esportivamente. Economicamente, dão enorme prejuízo aos clubes tradicionais, que literalmente pagam para jogar, e expõem os seus elencos a contusões graves. Esportivamente, são competições de baixíssimo nível técnico, com jogos disputados em péssimos gramados, e que só vêm despertar algum interesse na fase final. Por fim, os estaduais deixaram de valer a pena na medida em que são competições geridas de forma amadora por federações estaduais combalidas e ultrapassadas, que só existem para servir aos interesses de um ou outro clube e para perpetuar a vaidade dos seus dirigentes. As sucessivas polêmicas verificadas nos últimos anos só vêm a confirmar esse ponto.

Gostaria de fazer, portanto, uma proposta que me parece apenas a conclusão natural de um processo.

O fim dos estaduais. Não a extinção completa: os estaduais continuariam sendo disputados, mas em paralelo ao Nordestão. Os clubes que disputassem um, não disputariam o outro. Os últimos colocados no Nordestão seriam rebaixados ao nível estadual, enquanto que os campeões estaduais disputariam entre si, em jogos eliminatórios, o direito de acesso ao Nordestão. Ou seja, em vez de disputar um meio turno de um torneio deficitário e desinteressante, por que não expandir o Nordestão? Uma competição atraente e rentável, de bom nível técnico, com vaga em competição internacional?
Sempre lembrando que o Nordestão também tem uma longa história (a primeira edição foi disputada em 1946). É um campeonato que reavivará, com certeza, as antigas e ferrenhas rivalidades que se encontram adormecidas. Essa é a salvação dos clubes tradicionais do Nordeste. É hora de encarar o futuro. Que venha o Nordestão!
* Ulisses Braga Neto é conselheiro do Náutico
Nota: O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Blog do Torcedor

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