terça-feira, 8 de maio de 2012


Quem liga para os campeonatos estaduais

Por Cristiano Ramos*
Esse negócio ultrapassado, mal gerido, pouco rentável, e com baixíssimo nível técnico...Quem, enfim, liga para os campeonatos estaduais? Faz tempo que muitos pedem o fim
dessas competições. Após esse Pernambucano 2012, o pior em décadas, ainda existe alguém interessado no certame?

Arbitragens vexatórias, dirigentes de clubes que mais parecem adolescentes desbocados, estádios onde faltam até chuveiros, Federação incapaz de resolver os conflitos com
rapidez e eficiência, elencos fraquíssimos, partidas de fazer dormir até sinal de trânsito.Oportunidade para acabar de vez com essa porcaria, não?

Os coveiros dos estaduais só têm de resolver alguns probleminhas, antes de baixar o pesado caixão: para garantir o sossego do velório, eles devem convencer alguns presentes de que o defunto está realmente morto.

Começando por esses quase nove mil torcedores (em média) que, quando ingresso está acessível, comparecem aos jogos – gente que não desiste de testemunhar as rodadas, por piores que sejam as expectativas quanto à arbitragem, qualidade do futebol e segurança fora dos estádios.

Há também aqueles outros admiradores do morto, outras dezenas de milhares de torcedores que que prestigiam clássicos e partidas decisivas. No Arruda, durante a primeira final deste ano, público foi de 44.082 (isso se acreditarmos nos números oficiais, sujeitos às dívidas dos clubes). Monte de desocupado que parece ter nada melhor para fazer, do que velar esse morto esquisito, esse espírito-que-anda-corre-e- chuta.

Será preciso conseguir o apoio da incontável gente que vê, escuta e lê resenhas esportivas, que compra camisas, que comenta nas ruas, que se reúne no bar para assistir aos jogos, que arrisca zoar até o chefe quando seu time vence. Sem falar naqueles que vibram em casa mesmo, ou que sofrem calados.

Não esqueçamos de avisar aos torcedores do interior que, a partir do enterro, raramente terão a oportunidade de verem seus times em ação. Se não forem ao Recife, no máximo
terão a honra de receber um amistoso de começo de ano ou disputa de juniores. E os clubes locais, naturalmente, quase todos serão oficialmente declarados amadores ou extintos.

Mesmo entre os que aprovam o fim dos regionais, é plausível indagar o que maioria deles fará, já que passa bocado de tempo nas redes sociais, sites e blogs discutindo sobre
os mesmos. É coisa desimportante, um excremento (diria o comentarista inglês Tim Vickery). Contudo, entretanto, porém, povo que desdenha dessas competições costuma discutir, xingar, exasperar-se e até morrer do coração por causa deles. Que fazer, então, com esses casos curiosos?

Não mais que de repente, talvez, o melhor fosse pegar esse quase-presunto, tirá-lo do esquife, vesti-lo com roupas novas e deixá-lo perambular por mais alguns anos, décadas
ou séculos. Por que, se tantos brasileiros (ou deveria escrever “consumidores”?) se envolvem apaixonadamente com os estaduais, tudo leva a crer que, repaginados e sob 
administração competente, são ótimos produtos – além de traço inequívoco de nossa cultura.

Enquanto destino dos certames locais não é decidido, esperemos a segunda final do Pernambucano, na Ilha do Retiro. Conscientes de que – como os leitores do Blog do torcedor já tinham muito bem alertado a este cronista – o campeonato de 2012 não tem mesmo salvação! Como diriam os sertanejos, vamos lá para “beber o defunto”. Na esperança de que ele ressuscite ano que vem, mais corado e bem vestido.

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